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Meios de comunicação

 

As cartas eram, desde as mais remotas eras, os normais e únicos  meios de comunicação. De início os escravos e os estafetas levavam-nas ao destino. Mais tarde, surgiram as estações dos correios onde eram e são depositadas. E é esse Serviço Público que, ainda hoje, mediante o pagamento de uma estampilha de valor determinado, consoante o destino, as encaminha para o destinatário.

A Estação Telégrafo-Postal foi instalada nesta vila, em 19 de Junho de 1905, e passou a ligar as Lajes à Madalena por morse. Mais tarde, ficou ligada à Piedade, onde foi instalado o telefone, em 21 de Dezembro de 1915.

Durante dezenas e dezenas de anos, as estações dos correios tinham desusado movimento com o envio e recepção das cartas enviadas ou vindas de familiares e amigos ou das casas comerciais por meio das quais efectuavam as respectivas transacções ou negócios . Os serviços públicos utilizam os correios para a remessa dos chamados ofícios ou circulares.

Mas era indispensável que o mar estivesse bom e permitisse a aportagem do navio que transportava a mala do correio e até as chamadas encomendas postais. Recordo os momentos de angústia, quando no Inverno, estando em outra ilha, deixava de receber notícias da família porque o “Lima” ou o “San Miguel” e, depois, o “Carvalho Araújo” não tinham feito serviço na ilha, devido ao mau tempo. Isso obrigava a estar sem notícias durante um mês, ao menos. Meu pai, supria, por vezes, essa falta de noticias com um telegrama em que normalmente dizia: “O Lima não fez serviço. Estamos todos bem. Saudades”. Era um lenitivo para a angústia da ausência de nove/dez meses. E como eu, outros colegas de estudo.

Os emigrantes davam notícias aos familiares, de longe em longe,  através de cartas ou cartões-postais. E naquelas vinham, por vezes, os cheques ou dinheiro, em papel moeda, para os familiares e amigos. Rara era a carta de emigrante que não trazia alguns dólares (pesos) para o porte da carta de resposta, para a carne nas festas principais ou para outros fins e até uma pensão para os pais envelhecidos.

Quando o ”carro da mala” ou o navio mandava os sacos do correio para terra, uma “multidão” juntava-se à porta da estação, principalmente nas vésperas das festas maiores - Natal ou Páscoa -, à espera de uma carta dos familiares ausentes.

A carta, porém, foi caindo em desuso com o aparecimento de outros meios de comunicação. Por cá, estranhava-se, quando regressava algum emigrante e alguém lhe perguntava por qualquer familiar ou amigo também emigrado, e a resposta era: Falei com ele mas não o vi. Afinal, tinha utilizado o telefone que, por terras da Diáspora, era familiar.

O telefone apareceu no princípio do século passado, como atrás referi, e somente para serviço oficial nas estações dos correios. Depois, a meados do século, o seu uso foi generalizado com a montagem das redes públicas e, hoje, é um sistema vulgarizado. Até mesmo os emigrantes substituem as cartas tradicionais por este acessível meio de comunicação. Ainda há pouco perguntava a uma mãe como recebia notícias do filho emigrado nos Estados Unidos. Resposta: “Pelo telefone. Falamos quase todos os dias.“

Mas não só pelo telefone fixo. Vai-se vulgarizando o uso do telemóvel e até os adolescentes o trazem consigo. O mesmo se passa com a Internet através da qual as noticias e imagens chegam a qualquer parte do mundo no mesmo instante em que as coisas sucedem. Transmite-se uma festa e, de imediato, o receptor informa que está a ver o pai, o tio ou o primo, e a acompanhar, com alegria e saudade, esse acontecimento.

Os próprios jornais, que levavam dias e semanas a chegar ao assinante no estrangeiro, estão disponíveis através da Internet, no momento da distribuição local. E há já quem afirme que o jornal papel vai desaparecer...

Não creio, pois a sua função é muito importante para a história futura.

Hoje ninguém pensa em “Levar a carta a Garcia”.

Nem até o famoso Poeta, Armando Cortes-Rodrigues na sua célebre “Carta para Longe“ que, apesar de tudo, apetece repetir, pela saudade e pelo sabor excelente que nos deixa:
Maria:      
Estimarei                                                   Depois que daqui saíste
Tua saúde e dos teus                               Nunca Mais houve alegria,
Pois a nossa, ao fazer desta          Que no céu da nossa vida
É boa, graças a Deus.                    Veio a noite e foi-se o dia
                                                                   (...)                      

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